2) Distribua as peças sobre uma superfície plana

18/05/2013 10:44

 

Feitas as devidas explicações é hora de mais alguns detalhes. Eu fui aprovado no teste físico, apesar de não ser grande coisa quando o assunto é tônus muscular. No teste psicológico eu também me saí bem, isso quer dizer que não sou um maníaco psicopata. Veja, ainda podemos ser amigos (não sorria, ainda estou falando sério). Fiquei com medo de deixar minha mãe e irmã sozinhas.Mas pelo menos eu tinha os fins de semana livre. Com o trabalho na livraria manhã, tarde e fins de semana e a faculdade a noite eu praticamente não as via. Achei que eu poderia trazer para elas melhores condições, também poderia estar mais presente. Era um bom plano, você deve estar concordando.

Blá. Blá. Blá. Reco, reco, leitão e azeitona. Vamos a parte que vocês querem saber. O primeiro dia no dormitório foi difícil, eu senti saudade da minha família. Tentei fingir que elas estavam ali colando na parede um retrato em que nós três sorríamos num dia de Natal. OK, eu não tenho vergonha de dizer que alguns filetes de lágrima foram escorrendo sem que eu desse qualquer consentimento. Eram dois beliches por quarto, eu estava na cama de baixo do da direita, meu companheiro de cima era Toloi Koregari, um descendente de japonês – rapaz gente fina digo de passagem- ele já estava alia 3 meses. Conversou comigo, me deu as “manhas”. O Sargento Teixeira era meio abobalhado, bom sujeito, mas com jeito e ações de idiota, segundo ele me disse (mais tarde eu percebi que essa era simplesmente a definição perfeita). Coronel Tavares era um senhor de cabelos brancos e um bigode preto – contraste que me dava vontade de rir, não tinha jeito. Eu não devia. Não queria. Eu tinha que permanecer sério e em sentido. Mas olhava para ele e o sorriso ia me surgindo por dentro e passando pelas bochechas até a boca. Eu tossia discretamente para disfarçar, afinal uma risada no momento errado eu poderia pagar caro. Punição no exército não é mole não , viu chefia? Graças à Deus o Coronel raramente aparecia, as atividades e treinamentos eram feitos pelo Sargento Teixeira e pela Capitã Cortez. Ah é mesmo! Eu não falei dela ainda. Ela era uma pessoa extremamente séria e rígida.

Lá vem ela: Nem alta nem baixa, calça marrom com as botas pretas por cima. Um coque esticava rigorosamente o cabelo, a boina preta tinha o símbolo das Forças armadas. Ela não andava, marchava. Ela não olhava, fuzilava com duas glocks 45 totalmente carregadas e destravadas. Ela dava ordens com um ar irritante de superioridade e frieza.

Existem pessoas tão diferentes. Sabe quando você olha para alguém e pensa: Quero ser amigo daquela pessoa, putz que estranho! Então com a Capitã foi exatamente o inverso. Eu olhei ela chegando ao centro de treinamentos do exército, não sei se foi o corpo 100% ereto, pisava no chão com destreza como se quisesse machucar cada centímetro da superfície. Ah, eu já lhe disse que detesto pessoas arrogantes? Pois é eu detesto. Gente que acha que zeros a mais numa conta de banco ou sobrenome famoso ou até alguma forma de poder fazem seres humanos melhores ou piores.

Você, amigo leitor- somos amigos, não é?- saberia dizer para onde eu gostaria de mandar gente desse tipo? Da espécie da ilustríssima Capitã Cortez? É isso aí, já vi que você é um cara esperto – ou uma lady esperta se esse for o caso – é para esse lugar mesmo que pessoas assim deveriam ir.

Eu tenho uma característica própria. Não tolero injustiças, comigo ou com os outros.Posso não reagir explicitamente, mas não tolero.É como um almoço que o cardápio você não gosta de nenhum prato, você até come – e se você for a visita ainda diz que estava uma delícia – mas gostar mesmo , não.

Eu gostaria de falar mais, de contar tudo, mas o tempo ruge e temos que prosseguir. E vamos indo para você ver como essa história mal contada vai ficando interessante.